quarta-feira, 29 de maio de 2013


O FORDU-FORUM REGIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO UNIVERSITÁRIO COORDENADOR DO GRUPO DE REFLEXÃO DA SOCIEDADE CIVIL PARA O PROCESSO ELEITORAL

MESA-REDONDA NO HOTEL ALVALADE EM LUANDA

Introdutória

O tema de política, democracia e eleições em Angola e sobretudo a exigência de eleições verdadeiramente democráticas, é uma aventura que está a trazer raptos de pessoas e grupos sem explicação, torturas de outras, exclusão e muitas vezes extinção de partidos e associações cívicas, empobrecimento material de pessoas retirando-lhes direitos económicos e sociais, concomitantemente, enfraquece-se o potencial de participação cívica, escamoteando assim, os direitos civis e políticos e por esta via, tornando os cidadãos embrutecidos, transformando a vida em Angola de forma mais vegetativa do que cidadã. Longe de ser oportunidade, falar de política em Angola é uma ameaça, mesmo assim agradeço a oportunidade que as organizações dinamizadoras desse debate me dão em transmitir a minha opinião, minha opinião pessoal, com assumpção completa de responsabilidade, sobre aquilo que penso ser o ambiente eleitoral em termos de garantias políticas num estado de direito, em ano de eleições.

Angola e as 3ªeleições históricas

Pela 3ª vez Angola se propõe a realizar eleições, ou verdadeira e efectivamente democráticas ou eleições não democráticas.

O mundo de hoje, com excepção de 2 ou 3 países, quase todos realizam eleições. Curiosamente, até as ditaduras mais desavergonhadas também são legitimadas por eleições, pelo menos legislativas. Na Suazilândia, que é uma monarquia, material e formalmente primitiva também realizam eleições e se arrogam democráticos. Pelo menos, os analistas políticos da TPA em Angola quando lamentavam, ruminavam queixumes contra os revolucionários que assassinaram o Coronel Mwamar Khadaffi, diziam que Kadhaffi era um dos mais democráticos líderes africanos, de cuja democracia participativa, progressista e material, era exemplo a seguir pelo mundo! Eu acho legítima essa opinião!

 As 3 eleições que Angola realiza, ao longo de 20 anos, apresentam 3 características, totalmente diferentes quer para o interesse político, quer para o interesse jurídico, por isso, é mister fazer uma reminiscência, uma interpretação quanto à sua democraticidade:

·         Em 1992 elegemos de forma mais científica e politicamente correcta: 1 Presidente dentro do princípio de maioria absoluta a duas voltas em listas uninominal; e 1 Parlamento com regra proporcional nas listas plurinominais;  

 

·         Em 2008 elegemos metade da coisa: apenas 1 Parlamento em lista plurinominal.

 

·         Em 2012 elegeremos uma coisa totalmente diferente pela aberração: num único voto está implícita a minha vontade de eleger 1 Presidente, 1 Vice-Presidente e 1 Parlamento. Ainda não consegui entender bem o que é isto! Talvez alguém hoje me explicará da mais clara firma possível.

Recuando nos anais do passado, encontrei que as eleições de Setembro de 1992, foram nitidamente a continuação da guerra entre o MPLA e a UNITA por outros meios. Metaforicamente, aquelas eleições poderiam ser comparadas a jogo de duas equipas que empataram e vão aos penaltis : o MPLA não venceu a guerra contra a UNITA durante 16 anos e  a UNITA  também não a perdeu e portanto nenhum deles estava interessado em ceder e cada um deles procurava impor o fardo dos seus interesses egoístas ao outro: de um lado um MPLA que não queria perder o seu lugar na história, conquistado com a vitória em guerra de 1975 e as suas opções políticas totalmente discricionárias e por via de guerra conseguiu implantar-se no poder. Por outro lado estava a UNITA interessada em desalojar o MPLA nas suas poltronas palacianas com guerra ou com votos, ambos com mesmo significado.

Só assim se explica que por subterfúgios e circunlóquios inúteis, até dia 26 de Agosto de 1992, portanto 1 (um) dia antes do inicio da Campanha eleitoral, se concluiu a segunda revisão Constitucional que abolia totalmente o sistema mono – partidarista; criava a 2ª República de Angola e outras espécies de parciais garantias, através da Lei 23/92 de 16 de Setembro… mesmo assim, os exércitos do MPLA e os da UNITA sacudiam de forma irresponsável suas metralhadoras nas cidades e nas matas. Só 2 dias antes das eleições, ou seja dia 26 de Setembro de 1992 é que se formou o Exército Único, a Marinha de Guerra e a Força Aérea integradas entre FAPLA (MPLA) e FALA (UNITA). O ambiente bélico, ainda era os sinais visíveis e audíveis em todo lado. Essa situação triturou, esmagou o conceito de garantias, o conceito de liberdades fundamentais para os cidadãos.

Embora, como sempre, o povo angolano fosse civilizado, pacífico, ansioso em viver tranquilo, solidário, comunitário, comunicativo, amoroso… os políticos não deixaram que estes predicamentos habitassem nos corações do povo angolano e assim, as eleições não serviram nenhum interesse do povo, mas apenas e absolutamente só vieram para legitimar a permanência do MPLA no poder e a partilha dos lugares bonitos na governação pública com a UNITA e alguns partidos.

Quanto ao famigerado Estado Democrático de Direito, que se consagrou na revisão constitucional de Maio de 1991 e Setembro de 1992?

Este custou mais barato do que o papel em que a Lei Constitucional de 1991 e 1992 foram escritos!

Porque?

Porque não é sério, não é honesto, não é justo falar-se de direitos num país em guerra, porque a UNITA um dos potenciais candidatos à vitória eleitoral desconfiou ou descobriu  que  os resultados eleitorais foram manipulados pelo MPLA e por esta via perdeu as eleições, e entendeu reivindica-las voltando à guerra (que é a continuação da política por outros meios). E o MPLA que as ganhou queria impor a todo o custo a sua monumental vitória para vergar, humilhar, vilipendiar, vituperar seus mais inimigos do que adversários. Se a UNITA nessa altura ganhasse, parece que a regra de jogo seria a mesma: O desprezo pelo adversário. Este cenário que marcou as eleições de 1992, não aceitou implantar o Estado de Direito nem tão pouco a efectiva democracia progressista, materialmente sustentável e igual para todos os angolanos.

E o que é mesmo o Estado de Direito?

Talvez aqui seja também a hora e o lugar para relembrarmo-nos que:

Primeiro: chama-se Estado de Direito quando a Assembleia Nacional que elabora as leis, quando o Executivo e o seu titular que é o Presidente da República que implementam as leis, quando os Tribunais que zelam pela correcta aplicação das Leis, e o povo que deve pautar sua conduta à luz da lei ninguém se considera acima da lei, ou seja todos estão sujeitos a reconhecer o valor e a força da lei, respeitam-na, protegem e asseguram que seja a mesma lei a governar o povo e não o capricho de que tem poder na mão. Assim é Estado de Direito.

Segundo: Ainda é Estado de Direito quando o Estado se obriga a reconhecer, garantir, proteger e satisfazer escrupulosa e cabalmente os direitos da sua população, juridicamente vinculada na prerrogativa de cidadãos, qualidade que os titula donos da soberania. Donos do País e seus bens materiais e imateriais. E nesse tipo de Estado, o povo celebra o contrato de prestação de serviço com alguns concidadãos mais dotados, mais hábeis, mais honestos, mais sinceros, para encimar a gestão da coisa material e imaterial que pertencem ao soberano primário que é o povo, e em contrapartida, presta-se contas, satisfaz-se as necessidades e busca-se a felicidade colectiva. Esta parceria entre o povo e algumas pessoas para gerir o bem comum é a que se chama Contrato Social. Cuja relação de poder é a permanente prestação de contas ao dono do Poder que é o povo e as eleições são obviamente, o momento desse tipo de accountability.

Assim as eleições de 1992 eram técnica e formalmente eleições completas porque compreendiam dois modelos que a ciência política consagra que é a eleição de titulares de cargos unipessoais (Presidente da República) com sua campanha eleitoral a parte, com seu programa governativo à parte e com sua imagem provavelmente talentosa, humana, viável, exemplar à parte.

Realizou-se também a eleição legislativa que por métodos proporcionais, elegeu-se os partidos e estes por sua vez nomearam alguns de seus militantes para ocuparem os assentos no Parlamento como Órgão legiferante por excelência. O MPLA que as ganhou com 54%, conseguiu 129 lugares no Parlamento com que brindou seus fiéis militantes e por sua vez a UNITA conseguiu igualmente arrecadar, lucrar 70 lugares com que também remunerou os seus bravos heróis. Metaforicamente, esses militantes dos partidos colocados no Parlamento passaram a ser designados como DEPUTADOS DO POVO.

E na verdade são deputados do povo? Provavelmente sim! (1) 

Para buscar consensos que não existia entre o MPLA e a UNITA no decurso da história antes daquelas eleições e depois delas, bem como na paz considerada chantagem para governação inquestionável, que consideravam sua  propriedade que só poderia existir se os interesses de um fossem tidas em conta por outro, formaram mais tarde um Governo de unidade nacional  para se dividirem também os cargos ministeriais e governativos, ou seja partilhar os poderes legislativos, executivos e judiciais para acomodação dos nervos(?)

____________________________________________________

1-     O parlamento de deputados ou parlamento de partidos: o povo não elege directamente os Deputados João, Ernesto, Maria, Antónia, Gonçalves, Paulo, António, etc. Estes foram identificados nos seus partidos com uma comprovada fidelidade ao partido sem ser do conhecimento dos eleitores dos tais partidos. A dada altura através dos comités e outras formas internas dos partidos sem o conhecimento da sociedade civil e do Estado em geral, os partidos compilam listas de candidatos a deputados e estas listas são aprovados pelas instituições legais como o Tribunal Constitucional e ou o Tribunal Supremo nas vestes daquele. Se, eventualmente, o partido ganhar alguns votos esses votos são estatisticamente contabilizados e em função do método que a ciência política consagrou como método de transformar os números de votos em mandatos governativos ou legislativos então o partido coloca seus militantes fiéis na Assembleia Nacional e são daí chamados Deputados do Povo ou Delegados do Povo, como se na verdade o fossem. Mas isto não acontece apenas em Angola, é uma degenerescência dos Parlamentos a nível do mundo, só que em Angola o Parlamento serve da Pensão de velhice para aqueles que já foram úteis ao partido, e se querem posicionar como guardiões do templo, ou ainda para acomodar os antigos governadores que a sua governação tenha sido ruinosa e para não passar uma humilhação de estar em casa, é colocado num “Parlamento” para gerir recados do seu Partido, em troca goza de imunidade de seus pretéritos crimes... Em ciência política isto chama-se “solidariedade partidária” As funções deliberativas, as funções consultivas, as funções legislativas e as funções fiscalizadoras da Assembleia Nacional, no caso angolano, precisam que seus Deputados estejam dotados o suficiente para lá estar. Deveriam ser deputados excelentes. Temos alguns, mas são muito poucos. Em Angola só existe aquilo que a doutrina consagra como Parlamento de Partidos. Não temos Parlamento de Deputados eleitos em listas uninominais. “ Compreensivelmente, as modalidades de eleição dos Deputados determinam grandes diferenças na maneira como estes entendem o seu papel e exercem as suas funções de representação. É habitual em todo o mundo discernir entre parlamentos de deputados e parlamentos de partidos, entre parlamentos em que os Deputados gozam de grande autonomia e liberdade de voto e aqueles em que os deputados têm pouca autonomia e estão submetidos a uma disciplina de voto rigorosa”. kapwatcha,2011)

 

Em 2008, o Presidente José Eduardo dos Santos, usando do seu poder de representação, voltou a convocar as eleições, inicialmente para o dia 05 de Setembro e que por circunstanciais imprevisíveis, como sempre, as eleições acabaram por ocupar dois dias (05 e 06) em Luanda e também o segundo dia serviu de transporte das urnas que pernoitaram ao relento nas aldeias e comunas para os lugares de escrutínio. Porque algumas tiveram a sorte de serem transportadas de “Kupapatas” no Huambo, Bié, Cuando-Cubango,  Huila, Kuanza-Sul, e Kuanza-.Norte, Moxico, Malanje etc. Essas eleições foram como sempre marcadas pelo civismo, senso de humor, educação, solidariedade, comunicação, alegria e esperança do povo. Para o vosso benefício lembro-vos que num Huambo, uma das mais esmagadas províncias de Angola  pela fome e miséria, opressão e incomunicabilidade, pobreza abjecta e falta de liberdade, uma velhota de 82 anos morreu na bicha de eleições para ir votar, no bairro da Chiva, na comuna Vilinga. Pensava ela, que votando estaria a preparar o futuro de seus netos e bisnetos. Acho que não se enganou, só que o MPLA que ganhou as eleições, nunca fez referência nos seus discursos a façanha dessa heroína que morreu pisada pela fila apertada de eleições, antes da Assembleia de Voto abrir, porque pernoitaram na bicha! Provavelmente essa velhota de feliz memória não sabia o conceito de garantias nem de direitos só, por isso, nenhum político vencedor ou perdedor se interessou em saber os órfãos que provavelmente essa morta tenha deixado.

 A colheita eleitoral dos políticos?

O MPLA ganhou com mais de 82% e elegeu 191 de seus militantes para o Parlamento e formou o Governo, e por esta via, veio a demonstrar uma força, um potencial esmagador na aprovação, unilateral, das leis mais importantes do País como a Constituição deficitária actual e os Orçamento Gerais do Estado; e obviamente, assim, mais uma vez essas eleições voltaram a legitimar as conquistas históricas do MPLA que remontam a 1975. E essas eleições extinguiram do panorama pluripartidário angolano alguns partidos políticos nomeadamente FpD, PLD, PRD, PADEPA entre outros. Todavia essas eleições não permitiram eleger o titular de cargo unipessoal executivo que poderia ser ou Presidente da República ou Chefe de Governo. Por variadíssimas razões de campanha e de astúcias próprias da política, a UNITA e a FNLA ficaram reduzidas com resultados desnutridos que as urnas populares de voto ou a máquina electrónica do centro de escrutínio lhes brindaram, a um nível desonroso e que os conduziu quase ao recomeço da sua tortuosa história. O PDP-ANA não conseguiu granjear algum lugar no Parlamento para pelo menos o Sr. Sindiangani Mimbi, o Presidente ter usufruto aí na casa que “tipografa” as leis. Mesmo assim, não houve convulsões sociais, para o bem do indefeso povo que intencionalmente votou bem e que materialmente os políticos definiram e divulgaram por sua conveniência e táctica o que mais lhes interessava. Aí obviamente, o eleitor não foi culpado.

Houve garantias políticas antes durante e depois das eleições?

Antes, durante e depois das eleições de 1992 vimos que a guerra era expressamente a continuação da política por outros meios.

Agora, em 2008, adoptou-se uma outra guerra que em termos de Estado de Direito, tem as mesmas consequências que as guerras manifestas: a perturbação do Estado de Direito através da ineficácia e ineficiência governativa, a intolerância política, as violações sistemáticas das leis pelos órgãos que deveriam zelar pelo seu cumprimento. Ou seja o desvio dos direitos fundamentais dos cidadãos.  

A minha visão pessoal sobre o bem-aventurado e estratégico MPLA que “sempre mereceu confiança do povo” como está patente nas 60 páginas do seu Manifesto Eleitoral de 2012. Não se pode falar de garantias políticas sem olhar para o MPLA que governa o pais e tem tido a felicidade de ganhar eleições como confiança a ele depositada pelo povo, como eles dizem.

Dessa análise do contexto em que vivemos e tiraremos duas conclusões das nossas eleições em Angola se elas são verdadeiramente democráticas ou são apenas eleições de legitimação dos que governam:

Olhando atentamente para o MPLA, primeiro como Partido-Estado durante 16 anos (1975-1991) e depois Partido Governo desde Setembro de 1992 até aos nossos dias, desse tempo todo temos um partido e o seu Presidente a governar de forma ininterrupta, quase sem pressão significativa e sem uma perspectiva de mudança da Sede do Poder.

Parece que há maior interesse do Governo do MPLA em garantias políticas  em Luanda totalmente hospitaleiro e peregrino enquanto desfrutam das conquistas históricas, com apenas uma ramagem de interesse de garantias  para algumas capitais de províncias como Lubango e Benguela. Para o Huambo é apenas uma questão dos meios, para se alcançar os fins políticos não interessa em si mesmo. Cabinda as garantias giram em torno  do governação de petróleo que começa a ser ou sempre foi “petróleo de sangue” e talvez a madeira de Maiombe também para caixões dos nativos, não há interesse humanística na gestão de Cabinda. As Lundas e uma parte do Bié, Moxico e Malange, são reservas de pedras preciosas para as prendas de aniversários dos detentores de poder político e seus empresários. O povo local mantido no ciclo de exploração desde o tempo colonial até 2012, perpetuando a cadeia de pobreza social e cultural não há garantias políticas e sociais absolutamente nenhumas. Pelo menos as Lundas  e o Moxico vivem à margem de Angola, não podem crescer como Luanda e Benguela. O plano do Governo do MPLA até 2025 (Agenda25) visa produzir um desenvolvimento baseado nas infra-estruturas moderníssimas, as centralidades, um País tecnológico talvez virtual mas sem povo. Esses programas não colocam o povo no centro de governação. O povo é relegado ao mais baixo lugar do pensamento político. O que nos leva a prever que a geografia humana de Angola continuará despersonalizada e desumanizada como o foi desde o tempo colonial até em 2012. O resto de províncias são apenas referências por uma questão de consciência territorial e estatística, não há, realmente garantia política e interesse progressista. O terceiro interesse do Governo do MPLA são as forças armadas e a polícia nacional para garantir segurança aos governantes que se encontram no poder, para que suas conquistas não sejam perturbadas em nenhum momento. Mas essas forças armadas e polícia nacional devem ser mantidas na ignorância, na pobreza, no obscurantismo para facilitar a manipulação e o servilismo; tais intentos devem ser mantidos acesos pelos generais altamente enriquecidos e felizes. Só assim é que se explica que quem reivindica direitos em anos de eleições em Angola é raptado sem se saber o paradeiro num Estado que se arroga de direito, outros são presos em condições degradantes, só assim a polícia garante segurança do Governo quando vai destruir cruelmente as casas do eleitorado. Parece que não estaremos muito errados se pensarmos que as eleições são o mecanismo encontrado pelo Governo do  MPLA para proteger os bens materiais  e imateriais e preservar algum lugar na historia e não tanto para fazer a diferença. Esta situação tem sido evidenciada pela:

a)    A Exclusão social,

b)    A pobreza profunda sobretudo na juventude e as zonas rurais,

c)    As promessas não cumpridas fazem de Angola um país de fantasias;

d)    A degradação dos serviços sociais como educação de qualidade é inexistente. Apenas existe escolas enquanto paredes. O mesmo se diz da saúde que embora com serviços descentralizados a tal municipalidade dos ditos serviços a probabilidade de morrer nos nossos hospitais é maior mesmo com doenças simples

e)     Habitação para os pobres não existe; apenas existem tendas para os do Zango e humidade, escorpiões, centopeias para os camponeses do Lubango;

f)     A pobreza é planificada nos altos gabinetes com assessores estrangeiros e distribuída para a população através da injusta e desigual estrutura de poder e de acesso aos bens, empregos e oportunidades de mobilidade social ascendente;

g)    A desagregação das famílias motivadas pela infidelidade conjugal, instabilidade económicas, tensão política e ineficazes mecanismos de empregabilidade.

h)    As demolições de casas dos pobres de forma totalmente desumana sobretudo em Luanda e Lubango sem justas indemnizações;

i)      A destruição dos espaços de negócios informais, fontes de alimentação dos pobres tais como: os mercados do Roque Santeiro em Luanda, Estalagem em Luanda, Chioco no Lubango, Canata no Huambo, Chapanguele no Lobito, etc

j)      O saque feito pelos fiscais contra os vendedores ambulantes, os lavadores de carros, os engraxadores, que nunca têm paz nos locais permanentes, etc.

k)    Continuação da guerra em Cabinda e os problemas das Lundas, a isto se acrescenta a exclusão regional de muitas províncias como o Kuando-Kubango;

l)      Ainda tem se forjados prisões políticas para algumas pessoas que pensam “pelas suas próprias cabeças” sobretudo em Luanda como é o caso dos jovens manifestantes contra pobreza e mal governação , nas Lundas com o grupo de defesa do protectorado liderado pelo Dr. Malaquito e em Cabinda quase de forma crónica vive-se uma espécie de Estado de Sítio permanente;

m)  A cultura do medo está a favorecer uma governação que se não deve questionar, sob pena de ou perder emprego, ou ser bloqueado, ou ser preso, ou ser morto ou ser… eternamente alguma coisa ruim.;

n)      Fragilização propositada das instituições democráticas como os partidos da oposição, as organizações não-governamentais, as associações sindicais, o poder tradicional.

Quais são as características, os sintomas, das eleições verdadeiramente democráticas?

1)    Equidade concorrencial, nos termos em que os partidos e coligações de partidos bem como os candidatos sejam organizações estáveis, duradoiras e disseminadas em todas as esferas geográficas determinadas e acessíveis.

 

2)    A quantidade de dinheiro e o tempo preparatório das campanhas eleitorais para os partidos e os candidatos sejam equilibrados e imparciais

 

3)    A quantidade e as modalidades de acesso à televisão e a rádio para fazer propaganda de captação de voto

 

4)    Eleições livres que sejam isentas de quaisquer constrangimentos externos antes, durante e depois do acto eleitoral

 

5)    Eleições realizadas em tempo previamente estabelecido de forma a evitar correrias que só favorecem quem está permanentemente preparado.

 

6)    Organizar eleições para provocar mudanças reais nas vidas dos cidadãos e não apenas para proteger cargos públicos ocupados por seus.

 

7)    O voto democrático tem que ser universal, Livre, directo, transparente e secreto.

 

 

8)    O voto democrático não é possível onde há  presença de partido hegemónico que anima tudo com possibilidade de alternância totalmente impraticável (faz surgir oposição e extingui-la depois).

 

9)    A administração eleitoral deve ser encarada como arbitragem totalmente independente.

 

10) As eleições democráticas, nas repúblicas, sejam as únicas fontes de legitimação  dos dirigentes.

 

11) As eleições não devem ser realizadas com prévia relutância à alternância e a incapacidade

 

Todas estas características podem construir, manter, sustentar e fazer funcionar os regimes democráticos”. E os elementos negativos são estradas abertas para produzir ditaduras com roupagem de democracia. A tal democracia tutelar.

As garantias politicas mais relevantes para o cidadão são aquelas em que  nos intervalos de cada eleição, o eleitor se lhe ofereça espaço para ele, quer através do Parlamento, quer através da Sociedade Civil ou ainda através das livres manifestações consagradas nas legislações consiga exprimir seus desejos de ser bem governado. Quando ao cidadão não se reserva qualquer tipo de capacidade de questionar o rumo do seu País, não há uma cidadania efectiva; quando não há cidadania efectiva, não há democracia; embora houvesse eleições de tempo em tempo, tal não significa democracia porque, as eleições são igualmente o instrumento maquiavélico de manipulação da permanência no poder, simulando legitimidade e legalidade do cargo governativo que de facto não é legal nem legitimo já que alicerçado na mentira.

  As ditaduras modernas usam eleições não democráticas para preservar o seu poder e têm as seguintes características;

·         Não livres isto. São  caracterizadas pelo constrangimento.

·         Não competitivas, isto é caracterizadas pela desigualdade de tratamento entre os candidatos, quer financeira quer ainda do ponto de vista de acesso a comunicação social,

·         Não inclusivas caracterizadas por excluir certos grupos sobretudo os residentes no estrangeiro;

·         Caracterizadas pelo favoritismo despropositado nas campanhas eleitorais;

·         Ainda não serão consideradas eleições democráticas aquelas eleições organizadas com objectivos de controlo da oposição para ser esmagada depois de bem conhecida;

·         Não são eleições democráticas, aquelas organizadas com objectivo de conseguir a legitimidade nacional e internacional;

·         Não são eleições democráticas, aquelas cujos resultados são manipulados.

·         Não são eleições democráticas, aquelas em que a participação do cidadão seja o único e último momento em que ele deve intervir na vida política do país;

·         Não são eleições democráticas onde o poder judicial seja parcial  e corrupto.

·         Não são eleições democráticas onde não há uma sociedade política (partidos), verdadeiramente organizadas, responsáveis e estáveis cujas políticas internas e ideologias sejam duradoiros e coerente onde se manipula conflitos internos dos partidos.

 

·         Não são eleições democráticas onde não há  uma sociedade civil activa, actuante que participa de forma articulada na realização dos interesses dos cidadãos e iluminar os caminhos que desperte a consciência dos cidadãos.

Por tudo quanto aqui foi dito mostra claramente que as eleições tanto podem ser o culminar de um processo politico - jurídico  de reconhecimento, garantia, protecção e satisfação dos direitos dos cidadãos, incluindo a prestação de contas, a alternância de poder, a circulação das minorias políticas isoladas ou coligadas, como um valor em si, a promoção da pessoa humana como o centro em torno do qual gravita todas as políticas públicas etc,

Ou ainda as eleições serem usadas como mecanismo mais sofisticado e de sofisma para manter as ditaduras mascaradas no poder preservando assim suas conquistas histórica de forma perene.

 Este ano não iremos eleger novamente o Presidente da República em lista uninominal que elege cargos executivos, mas sim elegeremos um partido, de cujo militante que figurar no número 1 da lista de deputados ou seja o deputado numero 1 será condecorado como Presidente da República; o deputado numera 2 será agraciado com o lugar de vice-presidente! Que sorte daquele que se achar no topo da lista, só por isso será logo chamado presidente ou vice-presidente! Assim teremos presidente fruto de uma ficção constitucional e eleitoral. Obviamente, à Luz dessa Constituição Angolana, o futuro Presidente irá tomar posse mas se for o actual, tomará posse sem nunca ter deixado de o ser.

Muito Obrigado                      

Ângelo Kapwatcha

Sem comentários:

Enviar um comentário