FORUM REGIONAL PARA O
DESENVOLVIMENTO UNIVERSITÁRIO
PROGRAMA DE MONITORIA DOS DIREITOS
HUMANOS EM ANGOLA
CONFERENCIA
PROVINCIAL DOS DIREITOS HUMANOS NO LUBANGO
1º
TEMA: O DIÁLOGO COMO
FACTOR DE CONSTRUÇÃO DE CONSENSOS MORAIS E GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS EM
ANGOLA
Esta conferência provincial dos Direitos
Humanos é uma promoção do FORDU-Fórum Regional para o Desenvolvimento
Universitário, em parceria com o SINPROF-Huila. Esta Conferência está
enquadrada num ciclo nacional de Conferencias que o FORDU está a levar a cabo
com vista a conscientização dos cidadãos como titulares de direitos económicos,
sociais, culturais, direitos civis e políticos e eflectir sobre o nível de
engajamento do Estado angolano na implementação das recomendações
internacionais de cujo reconhecimento, garantia, protecção, promoção e
satisfação constituem os compromissos mais importantes que o Estado Angolano
assumiu através das leis angolanas e programas governativos no País e a nível
supranacional através dos tratados e instrumentos jurídicos internacionais reconhecidos e ratificados
pelo Estado Angolano para terem validade jurídica interna. A conferencia se
debruça sobre 4 temas fundamentais:
1º tema: O
DIÁLOGO COMO FACTOR DE CONSTRUÇÃO DE CONSENSOS MORAIS E GARANTIA DOS DIREITOS
HUMANOS EM ANGOLA este tema de forma introdutória visou analisar o quadro
de relações de poder na protecção dos direitos humanos entre os titulares de
obrigações (Estado) e os sujeitos de direitos (povo angolano)
2º Tema: OS MECANISMOS INTERNACIONAIS DE PROMOÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS A LUZ DO SISTEMA-ONU E OS COMPROMISSOS DE ANGOLA NA REVISÃO
PERIDICA UNIVERSAL-RPU DO CONSELHO DOS DIREITOS HUMANOS DA ONU DE QUE ANGOLA É
MEMBRO. Este tema partilhou informações das recomendações que Angola
tem recebido nas duas avaliações periódicas (2010 e 2014) pela ONU e o grau de
cumprimento por parte de Angola dessas recomendações para garantir os direitos
dos cidadãos.
3º Tema: O REGIME JURÍDICO DOS TRABALHADORES
ANGOLANOS, O CASO DA FUNÇÃO PÚBLICA E DOS PROFESSORES SINDICALIZADOS. Este
tema visou contextualizara violação dos direitos dos trabalhadores sobretudo os
da educação, com a recente realização da greve dos Professores da Huila e que o
diálogo não surtiu efeito até ao momento, com o mais agravante de que durante a
permanência dos professores na greve, o Governo da Huila entendeu prender e
torturar os professores grevistas bem como
desconta-los de seus salários, violando a Constituição de Angola, os
Tratados Internacionais de protecção dos direitos dos trabalhadores bem como
violando gravemente a lei da greve, a lei sindical e outros instrumentos
jurídicos que asseguram a legalidade de realização de greves
4º Tema: O
PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE PROMOÇÃO E PROTECÇÃO DE DIREITOS HUMANOS À LUZ DOS
PRINCIPIOS DE PARIS QUE INCENTIVAM OS ESTADOS A ESTABELECER EM SEUS PAÍSES AS
COMISSÕES NACIONAIS INDEPENDENTES DE PROTECÇÃO E PROMOÇÃO DE DIREITOS HUMANOS
QUE SEJAM ACESSÍVEIS PARA INDIVÍDUOS E GRUPOS. Este tema que fora tratado
de forma interativa, visou reflectir sobre o que tem feito as instituições de
protecção de direitos humanos, como a polícia nacional, a procuradoria geral da
republica, o ministério da justiça e dos direitos humanos, a secretaria de
estado para os direitos humanos, a provedoria da justiça e concluiu-se que o
papel dessas instituições tem estado muito dependente da agenda política do
Governo daí a ineficácia e ineficiência, urgindo a necessidade de se estimular
o amplo movimento de advocacia social a favor de criação pelo Estado através da
Lei própria o Conselho Nacional de Direitos Humanos que seja 100% independente
do Governo, do Parlamento e do Poder Judicial para que atuem com imparcialidade
ainda inexistente nas instituições actuais de direitos humanos ligados ao
Estado.
Assim,
a conferencia foi entronizada com o tema de DIÁLOGO resumido aqui:
Em Angola precisamos democracia, precisamos
progresso, exigimos que o Governo, reconheça, respeite, garanta, proteja e
satisfaça os direitos dos cidadãos angolanos para se materializar o preceito
constitucional segundo o qual, “a Soberania, Una e indivisível reside no povo”
(Art.3º da CRA). Este povo só pode ser soberano primário quando sentir em sua
vida, os seus direitos totalmente satisfeitos.
Começamos a nossa conferência de direitos
humanos com este tema: “O PRIMADO DO
DIÁLOGO NA GARANTIA DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS EM ANGOLA”.
Não pode haver respeito dos direitos humanos
dos cidadãos; não pode haver democracia progressiva que permita os cidadãos
participarem livremente nas grandes decisões de suas vidas; não pode haver
transparência na gestão dos recursos do País e da renda nacional que pertencem
a todos; não pode haver desenvolvimento sustentável; não pode haver liberdade
de expressão e de imprensa se não houver um diálogo franco, aberto, horizontal
e solidário entre as instituições governamentais e não-governamentais com seus
membros; entre os membros de famílias e seus vizinhos; diálogo entre
empregadores e empregados; principalmente diálogo entre governantes e
governados.
Esta conferência que o FORDU e o
SINPROF-Huila promovem, é um diálogo de
povo para povo sobre o valor dos Direitos Humanos nas vidas dos cidadãos bem
como a necessidade de se criar em Angola, Instituições eficazes de protecção
dos direitos humanos onde os cidadãos pequenos e grandes se podem rever,
recorrer e contar em suas aflições. Mas também esta Conferencia é um “momentum” pedagógico para aproximar o
Governo do seu povo valorizando o diálogo na sua agenda de Governação, a favor
de um povo que tem sido mais ouvinte do que interlocutor há tanto tempo.
O objectivo central deste tema é trabalhar desinteressadamente a ajudar as
Instituições Governamentais a melhorar o diálogo de Direitos Humanos na sua relação
de Poder entre eles e o povo; entre as Instituições e seus funcionários e entre
os cidadãos horizontalmente considerados.
3.
QUAL É A IMPORTANCIA DO DIÁLOGO NAS NOSSAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E
INTERINSTITUCIONAIS?
Quando pensarmos na importância do diálogo na
relação interinstitucionais, na relação interpessoal e na afectação de recursos
e de orientações bem como na partilha de valores e recursos comuns, cada ser
humano aqui neste lugar é um mundo a ser explorado, cada pessoa aqui neste
lugar é uma história a ser compreendida, cada pessoa é um solo a ser cultivado.
O valor da pessoa humana não se perscruta apenas no meandro da fama e do
dinheiro. O valor de um intelectual, de um político, de um funcionário público,
é tão relevante como o valor de um pastor de cabras, um apicultor rural ou de
um carvoeiro das zonas rurais de Angola, ou seja o professor universitário tem
o mesmo valor como pessoa em relação ao caçador nómada Khoisan do
Cuando-Cubango, por isso entre eles podem e devem instaurar o diálogo de
compartilhar e aproximar seus pontos de vistas.
Através do diálogo conseguimos administrar o
nosso senso de compreender as motivações e as razões que as pessoas tomam na
relação quer societária quer comunitária. O diálogo permite analisarmos as
situações, duvidarmos, criticarmos, fazer opções mais prudentes e muitas vezes
certas, valorizarmos os outros e suas opções fundamentais, exercermos a
livre-escolha, corrigirmos rotas de
nossos caminhos, estabelecermos metas a atingir, administrarmos as nossas emoções postas à prova com o
contraditório do “tu” e do “ele”, governarmos coletivamente os nossos
pensamentos.
Onde há diálogo franco e horizontal a tortura
já não tem lugar, a exploração do homem pelo homem já não pode existe e pelo
contrário a ausência do diálogo engendra todo o tipo de vilipêndio e escárnio
contra o outro .
Onde há diálogo verdadeiramente fraterno não
há ganância nem corrupção, nem injustiça, nem ameaça nem sevícias.
Onde há diálogo não existe cadeias injustas,
perseguições infundadas, nem opressão de grandes contra os pequenos.
Se estivermos lembrados, houve um silencio
tumular que durou 500 anos que se chama de período colonial que foi o desprezo
do diálogo durante a colonização portuguesa e para acabar com colonização, as
bocas calaram-se e em seu lugar surgiu a linguagem da Guerra de luta armada,
guerra de exclusão económica, guerra de desinformação, guerra contra a
diversidade cultural local, guerra contra a liberdade, guerra contra os pobres,
guerra contra a justiça e a Guerra subversiva cujas feridas por elas cavadas
sangram até hoje. Os novos actores políticos angolanos, depois de proclamarem a
Independência a 11 de Novembro de 1975, preferiram desprezar o diálogo, calarem
suas bocas e continuarem a premir os gatilhos de canhões durante 16 anos (mais
longo do que contra o colono): sangue jorrou, vidas humanas foram ceifadas a
par dos bens materiais como consequência de falta de diálogo franco.
Houve tentativas simuladas e tímidas de
diálogo entre os rivais detentores de força e poder. Quando o Governo conseguiu
confiscar a força de seus adversários por meio de ferro-e-fogo abandonou o
diálogo, desprezou o diálogo porque possui o monopólio do uso da força! Assim,
já não vale o diálogo. As consequências são as intolerâncias políticas, a
pobreza organizada, as perseguições, a opressão, as torturas, as mortes seletivas
por vários meios disponíveis, numa palavra a violação sistemática dos Direitos
Humanos em todos os níveis. Porque é que
os acordos de paz não acautelaram essas situações que hoje ameaçam a paz
social? Houve evidentemente um colossal desconhecimento dos perigos das
negociações e houve desprezo total da ética da reciprocidade: o paradoxo da
relação de poder entre os fortes e os fracos sempre resultam numa negociação
gananciosa sem diálogo horizontal e fraterno o que dá lugar à soberba,
arrogância, ganancia, injustiça, luxuria no meio da esquálida miséria numa
palavra: a falta de diálogo gera um cortejo sombrio de infelicidades para 98%
dos angolanos.
De 2002 que terminou a guerra militar para
cá, existe uma paz do silêncio; uma paz sem diálogo; e um egoísmo exacerbado
pela falta de diálogo fraterno. A consequência imediata tem sido a exclusão
social, pobreza abjeta, os ódios incubados, a deterioração moral, a depravação
alarmante de valores éticos, a improbidade pública, a delapidação sem
precedente do erário público, sobretudo na relação de poder de governantes
grandes para governantes pequenos e depois destes governantes pequenos
interessados a devorar o povo e seus pequenos haveres que Deus lhes legou num
puro, tetérrimo, hediondo e esquálida “homo
homini lupus”: quando não há diálogo “ o homem se torna num lobo que uiva
querendo devorar o outro homem, a toda hora. Ainda nos perguntamos, se isto
pode se chamar Angola ou podemos sintetizar num nome mais triste como Esgoto ou
Fossa onde todo o material inferior desce tranquilo?!
A
falta de diálogo tem enevoado perigosamente o futuro de Angola.
A falta de diálogo tem transformado as
pessoas em instrumentos de consumo imediato e supérfluo…
Quantos angolanos fofos, gordinhos,
brilhantes, cheirando bem, andando em carros de última geração, vivendo em
principescos, em sumptuosos palácios, sentados atrás das mesas grandes em seus
largos gabinetes, com unhas bem arranjadas, barbas e cabelos penteados, fatos
de raríssimos tecidos, aparentemente promovidos até a altos cargos da Nação,
mas lamentável, deplorável, de forma melindrosa convivendo todos os minutos,
todos os dias, todas as semanas, todos meses, ano-após-ano com uma pesada
corrente no pescoço em troca duma vida aparentemente boa mas silenciosamente
escravizante?!
Usaríamos o diálogo para desabafar que a
escravatura reciclada convive ainda nos nossos lares, nos nossos locais de
serviço, na relação com nosso governo e na relação até entre dirigentes.
Concluímos que onde há diálogo, “todos somos como
macacos, mesmo magros e magrizelas são livres, pulam de galho em galho de árvores,
do que cães gordos mas acorrentados numa perpétua e pesada corda que nos
enforca o pescoço da escravatura moderna, através de ofertas de carros e casas
parecidos a túmulos antecipados.
O diálogo permite descobrirmos que temos
direitos porque somos cidadãos e não somos cães gordos amarrados com pesadas
correntes no pescoço …
Os angolanos excluídos do diálogo inclusivo
ficam automaticamente excluídos da livre escolha até de modelos políticos que
lhes devem governar;
Os angolanos excluídos do diálogo inclusivo
para exercício pleno da sua cidadania, ficam excluídos de escolher a forma de
educar seus filhos;
Os
angolanos excluídos do diálogo ficam automaticamente excluídos da faculdade de
decidir sobre seus destinos, até a mais elementar condição de viver lhes fica
negados e até podem morrer sem ter um funeral digno de um ser humano (caso
Camulingui e Cassule);
Os angolanos excluídos do diálogo para a
cidadania plena lhes fora legado a linguagem do chicote, da tortura, da
exclusão social, da humilhação, da exploração, da brutalidade, da
incomunicabilidade, da imoralidade, da alienação tácita e manifesta, uma
cidadania mórbida, vivendo sob o jugo de uma tremenda falta de diálogo
espiritual e social (caso de torturas contra manifestantes)
A falta de diálogo engendra a mentalidade
agressiva de muitos homens e muitas mulheres angolanos, gera cultura de
violência, gera cultura de subserviência, produz hábitos de usurpação do património
comum sobretudo por dirigentes
governamentais de que tão arduamente estamos a enxergar e discernir se existe
alguma excepção? A resposta é Não! Há uma gritante delapidação da coisa pública
como um pecado colectivo entre governantes e um denominador comum após tomada
de posse! Obviamente, desonestos como nova cultura de governação, como
denominador comum na governação: a desonestidade, a leviandade e a improbidade
desvalorizam o diálogo de prestação de contas, o diálogo de inclusão social, o
diálogo da justiça distributiva, o diálogo de olhar para cima sem pisar o que
está à baixo. Assim precisamos na garantia dos direitos humanos em Angola:
a)
Diálogo
inter-geracional: as gerações se renovam de forma natural.
Desde os tempos imemoráveis, sobretudo nas sociedades sem Estados, basicamente
primitivas, o poder assentava na idade (só pode aceder ao poder o mais velho) o
poder assentava na família (usoma utunda kepata: só pode aceder ao poder aquele
proveniente de famílias nobres) o poder assenta no género (só pode aceder ao
poder o masculino em detrimento do feminino). Numa sociedade dialógica
pressupõe acabar com as mazelas de discriminação baseadas na idade, no género,
na origem familiar, na raça, na etnia, na origem geográfica, na filiação política,
na cor partidária etc. para que o progresso flua de forma natural de todos para
todos;
b) Diálogo entre Campo e Cidade: por
contingência de guerra e pela natureza histórica que diferencia a cidade do
campo em Angola as zonas rurais são símbolos de pobreza abjeta, de
analfabetismo, de exclusão, de massas seguidistas, de gente alienada e de
pessoas vencidas pela livre concorrência, de doenças endémicas, desnutrição cronica,
batedores de palmas nos comícios políticos mas com estômagos a roncar de fome ao
arrepio da fartura crescente dos que presidem aos tais comícios, que enquanto o
povo famélico sobe em tipoias regressando para suas primitivas aldeias
agarrando em enxadas centenária para cultivar tubérculos a fim de viver mais um
dia, os dirigentes saciados, fecham-se em seus veículos extraterrestres
zombando contra os eleitores. O diálogo efetivo pressupõe um verdadeiro
diagnóstico rural participativo, onde as pessoas do campo devem ser
protagonistas e livres em identificar, formular, implementar e avaliar os seus
projectos de desenvolvimento e progresso, na base de suas necessidades; para
que sua relação com a cidade não seja nem de recetáculo passivo das ordens da
cidade nem de endo-colonização urbana.
c) Diálogo entre a Capital e o País:
Ainda existe uma ênfase exagerada sobre Luanda. Única porta de acesso ao
exterior do País. Obrigatoriedade de acolher as Sedes de Partidos Políticos.
Concentra todos os poderes de decisões sociopolíticas, concentra os parques
industriais e os centros culturais de todo o País cuja assimetria subalterna,
de forma flagrante, o resto do País, retirando qualquer tipo de aproximação. O
que dificulta a justa distribuição e desenvolvimento minimamente equilibrado; o
que prejudica o conceito de igualdade que entre os cidadãos é um “termómetro de
diálogo paritário”. Deve haver o diálogo da descentralização de todos os
poderes e recursos, para que em qualquer parte do País onde o angolano livre
escolher para viver encontre condições e recursos para viver dignamente e não
apenas em Luanda.
d) Dialogo entre os partidos políticos quer
mais antigos e quer os mais recentes- Os partidos hegemónicos
precisam abdicar parte da sua soberba, do seu orgulho, do seu egoísmo e
hegemonia para reconhecer, incluir e respeitar os outros partidos, devolver os
direitos confiscados dos outros e partilhar dotações financeiras que permite um
equilíbrio mínimo e concorrencial, ceder em suas posições deixando de fazer a
guerra silenciosa de desestabilização dos outros partidos e acima de tudo,
acabar com o incentivo silencioso à intolerância política contra os militantes
dos partidos da oposição. Os partidos que se apropriaram de forma indevida do
património do Estado na altura lendária de lamentáveis recordações de
partido-estado, que devolvam paulatinamente os bens do Estado para que qualquer
um partido ao ganhar eleições não encontre um Estado despojado, reduzido “à
velha tanga” devido a delapidação de seus bens.
e) Diálogo entre o discurso e o percurso- O
diálogo angolano está baseado na teoria, nas palavras, na retórica porém
precisa-se construir pontes de diálogo através de enterrar o passado lá onde
deve estar, sem por isso, dar a merecida memória aos heróis (conceder certidões
de óbitos a vários heróis tombados e, prol da liberdade desde os longínquos
anos de 1960 até 2013 que tombou Wilberto Ganga em busca de mais um espaço de
liberdade de manifestação e cessação imediata de execução sumárias fora da lei.
Por exemplo, ainda não se realizou o funeral do Isaías Cassule e Alves
Camulingue mortos pelos agentes da polícia, na sequencia de violação do Direito
a livre manifestação consagrada na Constituição e nos Tratados Internacionais
dos quais Angola é signatária, portanto parte interessada; definir sanções
contra delitos de vinganças, intolerâncias políticas, incitação ao ódio baseado no passado e punir severamente
os crimes eleitorais bem como crimes de corrupção; construir o progresso da
Nação através de inclusão justa de todos;
f) Diálogo na Base da Esperança de uma
Angola para todos- é frequente ouvir que “ Angola tem donos”; é
corriqueiro ver tratamento de Angolanos de primeira, segunda, terceira, e
quarta categoria. É deveras, conhecido os casos de discriminação baseada na cor
partidária (caso de intolerância política e exclusão a cargos públicos dos membros
da oposição), no credo religioso (caso Josafat), exclusão étnica (caso dos
Khoisans e minorias agro-pastoris da Huila, Cunene e Namibe). Produzir o
sentimento de que todo o eleitor é potencialmente um eleito, para que numa
proposição inversa todo o governante é em acto um governado. Este sentimento
engendra prestação de contas, respeito, pesos e contra-pesos, separação de
poderes e de funções. Alternância de Poder. Onde não diálogo pensa-se que uns
nasceram para mandar e outros para obedecer de forma cega. O que não é verdade!
Onde não há diálogo pensa-se que o poder reside na idade, no género e no
parentesco; quando o verdadeiro poder reside na legitimidade, no primado da
lei, no conhecimento, na habilidade e na competência, sobretudo na probidade
pública, discrição e honestidade.
g) Diálogo entre o povo e o Poder Político- vivemos
uma situação aterradora! Será que o interesse de manutenção do poder em Angola
veio a minar os alicerces de diálogo? Não estamos longe da verdade se a
premissa de partida for esta. “Infelizmente, o passado ainda está connosco.
Séculos de opressão estrangeira ou nacional. Com frequência, a submissão cega a
figuras de poder mesmo sem autoridade e governantes têm sido inculcada ao povo
feito mera população semi-selvagem por muito tempo. Em casos extremos, as
instituições sociais, políticas, econômicas, religiosas e até mesmo da
sociedade civil - fora das algemas do Estado - foram deliberadamente
enfraquecidas, subordinadas, ou mesmo substituídas por novas instituições
arregimentadas, utilizadas pelo Estado ou pelo Governo para agrilhoar a sociedade. “A população tem sido muitas
vezes atomizada (transformada em uma massa de indivíduos isolados) incapazes de
trabalhar juntos para alcançar a liberdade, confiar uns nos outros, ou até
mesmo fazer muita coisa por sua própria iniciativa. O resultado é previsível: a
população torna-se fraca, não tem autoconfiança, e é incapaz de resistir. As
pessoas estão, frequentemente, muito assustadas para compartilhar seu ódio à
opressão e seu desejo de liberdade, mesmo com a família e amigos. As pessoas
estão muitas vezes demasiado aterrorizadas para pensar seriamente em
resistência pública. Em todo caso, de que valeria? Em vez disso, elas enfrentam
sofrimento sem fim e um futuro sem esperança.” Aí urge ensinar uma cultura de
resistência, de reivindicação, de exigência que parta do povo, processa-se no
povo e que tenha por meta o usufruto de uma Soberania que não seja mais
nacional mas sim popular como está na Constituição de Angola.
h) O
diálogo precisa-se para restituir a confiança do povo às instituições do
Estado. Estabelecer a relação que seja de usufruto de direitos e não mais a
manutenção da relação marcial entre um Estado que infunde medo, terror e
antipatia em relação a um povo quase desterrado da casa paterna.
O
DIÁLOGO DA, COM E PARA A JUVENTUDE ANGOLANA
Desde 2011, os jovens, os professores, as
mulheres sobretudo vendedeiras ambulantes, os taxistas sobretudo os
mototaxistas vulgos “kupapatas”,os estudantes universitários, os jovens em
Cabinda, os presos nas unidades
prisionais, na busca de seus direitos
têm levados acções como greves, manifestações de rua, escrevendo em redes
sociais, reivindicações de seus direitos fundamentais como alimentação através
do comercio ou do salário, degradação e deterioração da vida social e dos
espaços de relações sociais ao lado de falta de probidade pública dos gestores
de coisa pública; denunciaram a promoção visível da pobreza abjeta, repudiaram
o enriquecimento ilícito, a transferência descarada de poder económico das
instituições estatais para os indivíduos sobretudos de progenitores detentores
de poder para seus filhos, fragilizando cada vez mais as instituições
republicanas; e, o total desprezo por parte do Governo do diálogo com o povo
sobretudo com a juventude. Os movimentos sociais repudiam as demolições de
casas sem justa recompensa. Os jovens repudiaram as execuções extrajudiciais
perpetradas por agentes da polícia devidamente identificados. Os movimentos
sociais repudiam o saque ao dinheiro depositado no Banco Nacional Angolano que
são nossas contribuições e a riqueza produzida para todos. Os movimentos
sociais repudiam as fraudes eleitorais, a perpetuidade no poder por um único
grupo oligárquico em Angola e afinal os movimentos sociais repudiam o poder gerontocrático:
para engrossar ainda mais o autoritarismo, o Estado tem apenas uma resposta: a
tortura, a opressão, as prisões, numa palavra a linguagem do chicote.
O Governo de Angola, face aos apelos da
juventude às virtudes cívicas e democráticas, respondeu desencadeando vários
cenários dentre uma guerra subversiva da média pública contra a juventude
revolucionária, tal como o fazia e bem o Colono; mobilizou as forças da Ordem
Pública para desencadear uma violência requintada contra a juventude que o caso
mais recente, a jovem Laurinda Goveia fora torturado, como fazia no século
dezasseis o colono, contra o povo que buscava sua liberdade: a linguagem do
chicote próprio que define o opressor contra o oprimido; e no fim um grupo de
juízes parciais e imorais foi mobilizado para condenar de forma intimidatória
tudo quanto prime pelo diálogo. Não há lugar para Diálogo mas sim para tortura,
opressão e ameaça. Os protestes não pararam e a imagem do Estado Angolano
principalmente do Governo e o Presidente do Governo continuam a ser atormentada
e foi aí que O Presidente do Governo de Angola mudou de método, e mobilizou a
juventude do seu partido (JMLA) para desencadear então um programa teoricamente
nobre “DIALOGO JUVENIL”. Aí incumbiu à JMPLA para instaurar o diálogo
com a juventude sem respeitar as juventudes dos outros partidos e dos
apartidários, mais uma vez a farsa do “Diálogo Juvenil não foi senão conto de
fadas, uma já sofrivelmente canção sem música: a cumplicidade, a conivência
entre o Regime opressor e a sua animada Juventude não pode ser mais do que “a
gasolina no fogo”!. A mesma tentativa fracassada foi feita pelo Ministério da
Juventude e Desporto através do seu programa teórico: “ ANGOLA-JOVEM” para
aplacar a ira e cólera da Juventude
Livre que dentre os projectos incluía o “crédito jovem, pavilhões de artes
e ofícios, distribuição de rolouttes para comercializar os fastfood. Os
beneficiários escolhidos entre os seus acólitos não vieram do País mas sim do
Movimento Juvenil do Governo: a JMPLA, para animar as maratonas e vivificar a libido
dominandi na economia e na felicidade. Até uma dúzia de jovens tiveram “
prerrogativa” inefável de atravessar o umbral do principesco presidencial e
conversar directamente com o Chefe do
Governo e de “todos nós”; mas o encontro dirigido, o vocabulário selecionado,
as pessoas seleccionadas não podia mais resultar senão na fanfarrona das mil
simulações?! Aquele encontro dirigido!? Os protestos revolucionários
continuaram e aí o excelente Governo e seu Chefe entenderam instaurar outro
tipo de diálogo: mobilizando clandestinamente as milícias para torturar os
indefesos jovens revolucionátios 1 a 1: Carbono Casimiro, Lwaty Beirão, Rabi
Freitas, Banza Hamza, Pandita Nerú, Adolfo Campos, Luamba, pedrowiski teka,
Laurinda Goveia, Manuel Pereira Vitoria, Filomeno Vieira Lopes, etc, os professores
em greve no Lubango, Mulheres nas Lundas, jovens em Cabinda, Kupapatas no
Huambo, em Benguela e Bié, numa palavra: a linguagem do Chicote que durante 500
anos de colonização caracterizou o modelo de colonização… até ao momento o
Diálogo não é a opção do Governo nem o seu Chefe, como não fora a opção do
Colono e acho que estamos entendidos que numa colonização seja originária ou
derivada não há Diálogo então seria em vão insistir no diálogo!.
Infelizmente, sentimos na substancia que o diálogo
entre as instituições do Estado e a juventude que atingira a cidadania e que
busca a liberdade como dom de Deus, não existe em Angola como não existe o diálogo
entre as instituições governamentais e as instituições não-governamentais.
Não existe o diálogo entre as zonas rurais e
as zonas urbanas.
Não existe diálogo entre adultos e crianças ;
Não
existe diálogo entre homens e mulher de forma franca e respeitosa senão o
reciproco aproveitamento egoístico.
O que existe de facto, é a imposição do ponto
de vista do Governo coercivamente quer por meio da Lei quer por meio da Polícia
repressiva, quer por meio dos “caenches” quer por meio de juízes e procuradores
subversivos ou “in extremis” no diálogo entre o jacaré e o activista, não pode
haver consenso!
Ainda
existe a falta de diálogo na economia através da pobreza e vulnerabilidade do
povo como incentivo à obediência cega e a subserviência. Muitas vezes o Estado
compreende que tirando partido do diálogo com o povo, tal como o fazia o
Colono, prefere falar do povo, falar da juventude, falar da sociedade civil e
nunca falar com eles. Falar deles e nunca fala com eles!
O
Estado tenta criar a doença sozinho e inoculá-la na sociedade e depois tenta desesperadamente
inventar a cura. Tenta criar problemas e soluções fechado egoisticamente nas
leis orgânicas e nos decretos mudos, cegos e surdos em relação as verdadeiras
aspirações do povo angolano numa palavra um Estado Mudo sem diálogo.
E por esta via, a pobreza se alarga
arruinando o conceito de paz social, porque: “a Pobreza é a violação de todos
os direitos humanos”
Faltando o diálogo não existe o princípio de
igualdade e equidade gerando uma profunda crise de justiça social que
consistiria em dar saúde aos enfermos, comida aos famintos, liberdade aos
prisioneiros quer de consciência quer de corpos, justiça consistiria em “dar a
cada um o que ele precisa.”
A falta do diálogo leva a promoção das
aparências e da mentira. E a mentira alimenta conflito e serve os interesses de
injustiça e talvez prepara os futuros conflitos ao passo que a verdade
fortifica os meios da paz social e a confiança nas instituições dialógicas.
A falta do diálogo remove do nosso quotidiano
a liberdade que é a mãe da paz. Só por meio de diálogo se pode promover Homens
e Mulheres livres numa sociedade também livre e de liberdades fundamentais.
O primeiro e mais autêntico mecanismo de Diálogo,
supõe a conversão de corações, adotando melhores atitudes, transparência,
democracia progressista, respeito, equidade, justiça social, igualdade,
inclusão social, sobretudo criminalizar a corrupção e instaurar a probidade
pública, como primeiro passo.
O Dialogo em Angola é difícil entre as
pessoas, o diálogo é difícil entre as instituições e grupos. O diálogo é
difícil entre pobres e ricos. O diálogo está a ser difícil entre habitantes da
cidade e os habitantes das zonas rurais. O diálogo está a ser difícil entre os
governantes e os governados e tem reinado o ambiente de imposição de pressupostos
e pontos de vistas dos mais fortes aos mais acorrentados.
Alguns requisitos para instaurar o verdadeiro
dialogo, consiste em aceitar o PRIMADO DA LEI, o verdadeiro Estado de Direito
em Angola que consiste em o Governo reconhecer, garantir, proteger e satisfazer
os direitos dos cidadãos de um lado e do outro lado, tanto os órgãos que
elaboram as leis (Poder legislativo) os órgãos que zelam pela correcta
aplicação das leis (Poder Judicial) quer os órgãos que implementam, na prática,
as políticas públicas (Poder Executivo) assim como os cidadãos que devem
orientar sua conduta à base da lei; ninguém, absolutamente ninguém deve
considerar-se acima do Direito. Também o diálogo é o alicerce primordial para
se aceitar o pluralismo social como riqueza e uma sopa nutritiva para a sã
convivência num mosaico etno-linguístico como Angola.
SO
QUE:
O angolano quer dialogar e solucionar o
problema da corrupção, quer dialogar e resolver a questão de pobreza abjecta
que ameaça a paz social, e o Estado quer lhe ensinar a cantar o Hino da
República.
Como há défice do diálogo, a sociedade civil
livre e organizada promove conferencias, workshops, colóquios, mesas-redondas,
debates para trocas de experiencias como diálogo e aprendizagem e o Governo
desencoraja, desmobiliza os seus agentes para não participarem e para não
aprenderem a dialogar
A policia nacional é protagonista de violação
dos direitos humanos com torturas, cadeias e prisões arbitrárias e quando
convidados a receber formações sobre instrumentos legais e jurídicos que
regulam a gestão de relações nas sociedades civilizadas os agentes são
orientados a não participarem desses eventos e assim, a governação encontra no
obscurantismo o seu combustível para andar.
A juventude ligada ao governo é apenas
convidada por seus dirigentes a aplaudir em comícios, o consumismo, a luxuria e
a imoralidade são incutidos dos mais velhos para os mais novos como
característica da nova Governação e assim a depravação alarmante de valores
morais na sociedade é planificada em gabinetes e distribuídos para jovens e
velhos incautos por falta do diálogo.
No lugar de conhecer as etnias, as línguas,
as culturas, as riquezas, as potencialidades de Angola, o Estado informa o
significado das cores da bandeira e pelo menos a roda dentada e a catana bem
como a estrelinha amarela, assim adiamos o diálogo e criamos impressões e
falsas aparências.
Cada dia contabilizamos batalhas perdidas,
cada dia somamos causas perdidas e derrotas consentidas, é por isso que
continuamos é por isso que batemos os pés, ao chão mais forte.
Não desistiremos, enquanto não amanhecer para
o diálogo mais inclusivo na economia, o diálogo mais justo na aplicação das
leis, o diálogo mais inclusivo nas etnias, línguas e regiões; o diálogo mais inclusivo
entre homens e mulheres, entre adultos e crianças, entre trabalhadores e seus
empregadores, sem preconceito diante de ideias do pluralismo de pensamento e
dialogaremos até a alternância de poder politico hoje connosco ou mais tarde
com os nossos bisnetos mas esse dia virá! E, hoje é apenas é ANGOLA, mas quando
amanhecer para o diálogo verdadeiramente inclusivo teremos um ESTADO
DEMOCRÁTICO E DE DIREITO chamado ANGOLA e para TODOS OS ANGOLANOS, DOS ÚLTIMOS
AOS PRIMEIROS.
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