O
PAPEL DAS FUTURAS LIDERANÇAS POLÍTICAS E O LUGAR DA JUVENTUDE NO RESGATE DA
MORAL PÚBLICA.
Prelector:
Abílio
Camalata Numa, General e Deputado da Assembleia Nacional de Angola, pela
Bancada Parlamentar da UNITA.
S.
Excelência, Abílio Camalata Numa, General e Deputado à Assembleia Nacional,
especialista em Estratégia e Gestão, esteve no Huambo, a convite do FORDU-Fórum
Regional para o Desenvolvimento Universitário, para, no âmbito do programa de
debates as sextas-feiras denominadas “ Jango-às-Sextas Feiras” que
quinzenalmente reúne em arena, para reflectir sobre a vida da Nação Angolana.
Assim, S. Excelência Deputado do Povo, Abílio Camalata Numa foi convidado para fazer
uma comunicação subordinada ao tema:
O
PAPEL DAS FUTURAS LIDERANÇAS POLÍTICAS E O LUGAR DA JUVENTUDE NO RESGATE DA MORAL
PÚBLICA, A PERTINÊNCIA DE UM PATRIOTISMO AUTÓCTONE
De
acordo com o Prelector, o tema proposto reflecte o momento actual de Angola, as
lideranças actuais em Angola e o contexto de luta em que a juventude está
impregnada e engajada. É quase insignificante a franja da juventude que esteja
a lutar em busca de um espaço que é seu, mas já é de todo evidente que essa
luta está a produzir um impacto positivo nas práticas, nas políticas, nas
ideias e nas crenças, até o conceito de invencibilidade, intocabilidade,
impunidade começam a desvanecer-se na poeira do tempo. A prelecção situou-se na
máxima segundo a qual, “ as lideranças políticas angolanas têm se forjado a
volta das causas políticas que fundamentaram o nacionalismo que tem ditado
processos de desenvolvimento político, económico, social e cultural de Angola
pré-colonial, colonial e pós-independência”
É
evidente que Angola na sua vocação antropológica, sociológica, jurídica e
política é um país multicultural, multirracial e multiétnico, mosaico social
que corresponde a um contexto multilinguístico, já que cada etnia corresponde a
uma língua e por esta, são veiculados usos, costumes, mores, ritos, práticas,
políticas, ideias e crenças que distinguem um povo do outro, então a preservação,
numa palavra, de culturas da diversidade e da unicidade, no meu País, constitui
a riqueza antropológica de Angola que deve prevalecer no tempo e no espaço. Só
não é admissível e consensual que as maiorias étnicas sejam subjugadas pelas
minorias étnicas e na proposição inversa as maiorias não podem desfrutar
malevolamente do seu chauvinismo contra as minorias e para este quadro tem que
se encontrar doutrinas, conhecimentos, competências e habilidades para
construir equilíbrios e consensos que permitam a busca da realização plena de
todos os angolanos em qualquer etnia que se encontre. Por exemplo, os
Estados Unidos da América, entendem tão bem o valor da multiculturalidade, a
multirracialidade que deram oportunidade ao descendente de africanos a dirigir
a Mega Potência que é EUA, tratando-se, obviamente, do Barack Obama, ao passo
que não há indícios de um dia a Rússia ou a China até mesmo Portugal vir a ser
dirigidos por um negro ou um mestiço, porque na sua essência a convivência
mono- cultural é fundamental, onde o racismo talvez esteja na ordem do dia.
Aqui, nesta parte, uma das questões que tem retardado a marcha angolana para
uma cidadania efectiva, actuante e feliz para todos é o facto de a cidadania
ser substituída pelo partidarismo: Hoje, não conheço investigação científica
sem partidarismo, professores, enfermeiros, juristas, polícias, os militares,
os médicos, os empresários, as igrejas, alunos ou qualquer outro ramo
profissional grande ou pequeno, tem que estar ancorado no partido governante,
pelo menos os Comités de Especialidades passam esta mensagem de forma autenticada.
A pergunta ecoa uníssono, imperando urgência de respostas: como é que se
chegou a este estádio social discriminatório, criminoso, corrupto que não vê no
cidadão o seu ponto de partida e de chegada, mas sim no partidário “yes men” o
alicerce primordial de Angola de hoje?
Os
primórdios do nacionalismo angolano que culminaram na proclamação da
independência, não se fundaram na luta em prol de autóctones mas sim acomodação
das elites assimiladas que nas profundezas lutaram para reincarnar o sonho do
colono numa era pós-colonial. Pelo menos, este curriculum esteve oculto na
criação depois da segunda guerra mundial em Lisboa e Coimbra da Casa dos
Estudantes do Império, que nada mais era senão
“o Comité de Especialidade dos Estudantes para serem fidelíssimos aos
ideais da Mocidade Portuguesa” que era a juventude portuguesa de manutenção da
ditadura salazarista, em que na Angola de hoje, há milhões e milhares de
exemplos seguidistas. Lembremos que da CEI, passaram angolanos como Lúcio Lara
e Agostinho Neto, Guineense Amílcar Cabral e Moçambicano Marcelino dos Santos. Todo
o nacionalista mesmo embrionário que
direcionasse sua luta em prol dos autóctones foi olhado, é olhado e talvez será
olhado como tribalista, racista, segregacionista, chauvinista, etc. etc. O
Nacionalismo forjado na CEI era de facto um nacionalismo que trouxe independência
às colonias, porém este nacionalismo nimbado nos métodos colonialista é o
nacionalismo luso-tropicalista que nada mais tinha senão conquistar o poder mas
manter os métodos do colono. Ou seja: independência sim, mas liberdade,
transparência, inclusão, probidade, nem pensar! E hoje por hoje tudo se
confirma, no actual nacionalismo luso-tropicalista que escraviza cruel os
autóctones, não vemos senão a reincarnação e vivificação dos sonhos de uma
colonização perpétua, presente, milimetricamente, na governação actual. Para
este nacionalismo luso— tropicalista, todo o que luta para um nacionalismo autóctone
é rotulado de reacionário, fraccionista, tribalista, racista, arruaceiro,
difamador e calunioso, instigador das massas, fomentador de guerras e etc etc.,
foi assim com Nito Alves, é assim com todos os que são na essência os
verdadeiros patriotas actuais. Se tivermos em conta as crises ardilosamente
programadas para os autóctones não se reencontrar desde 1961 até 2013 já lá vão
52 anos. Estas crises de uma união que teima em chegar, um nacionalismo e
patriotismo fundados na autoctonia, uma moralidade pública considerada a
bandeira mais importante, a prestação de contas e criação de felicidade para os
filhos desta rica pátria, então saberemos que não há vontade da actual
governação em dar outro rumo ao País, a não ser o descaminho dos sonhos em prol
da luso-tropicalista cidadania ou seja uma cidadania alienada dos verdadeiros
sonhos dos autóctones. Falamos de crises que assolam a nossa moralidade
pública, crises que ofuscam a inteligência dos dirigentes para tomar decisões
mais acertadas e correctas, crises que geram e alimentam a cultura do
consumismo e uma sobrevivência apenas para mais um dia, crise que gera a desestruturação
das famílias e das instituições, crises que geram a miopia na gestão
estratégica dos planos a favor da Nação, uma Nação que se pretende em marcha e
afinal, os dirigentes do Governo actual passam a mensagem que está tudo bem!
Não há crise! “Estamos sempre a subir!” “Produzir mais e distribuir melhor…!” E
era bom que assim fosse. É urgente que os dirigentes deste País, reconheçam, no
imediato, que as coisas estão mal e caminham para o pior. É humildade, o
urgentíssimo reconhecimento de que o Estado Autocrático, consequência da
revolução do nacionalismo luso-tropicalista, tem fissuras que aprofundam dia a
pós dia. Os feitos gloriosos do nacionalismo autóctone dos Bairros de Luanda,
do Nambuangongo, dos Dembos, Malanje, Kifangondo, Kwanza-Norte etc evidenciados
nas datas de 4 de Fevereiro, 15 de Março de 1961, foram aproveitados pelo
nacionalismo luso-tropicalista cujo império cruel se tem construído na base de
perseguições, prisões, mortes, exclusões, empobrecimentos e assassinatos dos
autóctones de que todos estamos lembrados do genocídio do 27 de Maio de 1977 e
que 80.000 angolanos genuínos, pereceram só por tentarem promover o nacionalismo
autóctone contra o nacionalismo luso-tropicalista. A luta contra o nacionalismo
luso tropicalista cuja bota está ainda no pescoço dos autóctones deve engajar a
juventude actual e os líderes políticos de boa vontade para o bem da Nação. E
que quanto mais tardarmos em resolver esta crise, deveras crónica, maiores
serão as consequências em termos de desagregação e desintegração social de
Angola e por conseguinte a deterioração da vida do cidadão que mais atenção
mereceria e porque é ele o dono deste País.
O contexto de delapidação do erário
público, a inversão de valores democráticos e a invasão silenciosa de
estrangeiros em nosso solo-pátrio.
O
nacionalismo luso tropicalista na sua vocação e por definição discriminatório,
tem beneficiado e robustecido graças à convergência favorável da crise
energética internacional, das políticas paternalistas das democracias
ocidentais e regimes orientais (Rússia e China) em detrimento da Agenda de
Construção do Estado-Nação de Angola, em detrimento da reconciliação nacional,
do aprofundamento do Estado Democrático de Direito. O Nacionalismo
Luso-Tropicalista tem beneficiado da crise económica internacional que tem
favorecido a emigração massiva de povos invadindo Angola e vulgarizando o
conceito de autoctonia.
Esta
nova forma de neocolonialismo tem estado a colocar em risco o nosso capital
natural, nomeadamente os povos autóctones, a terra, a água doce, as áreas
marinhas e com a actual Constituição, o País está entregue ao Presidente da
República que de forma discricionária o entrega a quem ele próprio escolher e
todos já sabemos a quem ele oferece a Nação: aos estrangeiros, desterrando os
autóctones. Este neocolonialismo desterrou o capital financeiro de Angola
escondendo-o em vários países do mundo, os famosos paraísos fiscais. A
tendência não é animadora, e talvez podemos adivinhar que se não se pôr cobro,
imediatamente, até 2040 o País será a seara de rapina de seus recursos,
destruindo profunda e sistematicamente os autóctones: o litoral irá, obviamente
crescer em detrimento do interior. A injustiça na distribuição da riqueza será
a regra ao invés de excepção. Mais de 60% do PIB angolano estará concentrada em
menos de 0,5% do povo angolano ou seja da elite luso tropicalista que
corresponde a esta cifra ou um pouco mais como 1% da população de Angola. Mais
de 80% de terra arável será controlada pela elite luso tropicalista e seus
cúmplices estrangeiros (quase congéneres) que não vai além de 1% do povo
angolano; o povo autóctone será mais oprimido, mais analfabeto, mais doente,
mais pobre, mais acabrunhado e apoquentado, mais cabisbaixo tal como era a
realização do velho sonho colonial de se olhar o angolano autóctone como se de
coisa inútil se tratasse. Será que o colono não tinha construído escolas?
Hospitais? Estradas? Caminhos de Ferros? Portos? Aeroportos? Cidades?
Obviamente, que o colono construiu e bem! Mas as infraestruturas serviam de
lavagem de imagem ontem e hoje, enquanto o curriculum mais sério e oculto é
destruir o tecido humano autóctone e no seu lugar nascerem centralidades
desumanas e inóspitas! Haverá partidos políticos supostamente da oposição mas
estimulados pelo nacionalismo luso tropicalista para vulgarizar a luta dos
partidos verdadeiramente nacionalistas e autóctones não subservientes. Se o
povo no geral e a juventude em particular não despertar, o País estará à deriva
nos próximos longos e duros anos de desespero, numa altura em que a ditadura
florescerá intocável. O nacionalismo luso tropicalista tem algemado o Estado de
Direito e o acesso à justiça, tornando a impunidade dos criminosos de alta
posição como regras e não excepção. Assim, esgotam-se os caminhos que o povo
autóctone deveria trilhar em busca da justiça distributiva e social.
AS LIDERANÇAS POLÍTICAS HONESTAS E
PATRIOTAS E NO CASO VERTENTE NACIONALISTAS AUTÓCTONES E A JUVENTUDE SÃO ESTRELAS
QUE APONTAM O CAMINHO…
Os
nacionalistas luso tropicalistas usam leis violentas contra autóctones e usam a
polícia violenta contra autóctones e a violência é o poder repressivo. Este
poder só existe onde falta a autoridade que é a aceitação por consentimento e
legitimidade. Os nacionalistas autóctones em todas as faixas etárias diante da
pesada mão violenta dos Luso tropicalistas, devemos responder com a
não-violência e firmeza dos movimentos reivindicativos e desobediência civil
generalizada em todos os sectores sociais. Os nacionalistas luso tropicalistas
estão a deteriorar a educação, a saúde, a habitação, a segurança pública, a
qualidade de vida, as liberdades, direitos e garantias dos autóctones, a juventude
deve se defender usando o incremento de movimentos sociais pro educação cívica,
reivindicativos, empreendedores em tempos de emergência, deve se criar
observatórios político-sociais vigilantes sobre todas as manobras de
delapidação do erário público, estimular o surgimento de activistas cívicos
engajados a investigar informalmente as localizações e planos dos esquadrões da
morte mascarados na polícia nacional, nas forças armadas, nos Hospitais, nos
bares e restaurantes, nos hotéis, nas discotecas, etc; apoiar iniciativas de cantores
e pintores revolucionários para a denúncia e difusão de mensagens de união em
prol de busca de soluções em tempo de crise ardilosamente projectada em
gabinetes. Perante a inoperância e rendição ao nacionalismo luso tropicalista
das instituições republicanas vocacionadas a investigar assuntos económicos,
políticos sociais do interesse de todos, nesta crise, deve se estimular o
surgimento de instituições informais e não formais alternativas a satisfazer
essa parte, para que não haja vazio investigativo que contribua para resgatar
os direitos usurpados. Assim, o líder duma Angola de amanhã, um amanhã que não
mais se eternize no presente enevoado, deverá:
·
Promover a integridade na administração
pública e privada;
·
O profissionalismo;
·
A
capacidade de estimular e atrair novos talentos;
·
A criatividade e tirar partido dos recursos
existentes em todo o domínio para a construção de uma verdadeira felicidade que
se funda no bem comum isto é, bem de todos, para todos e com todos;
·
Pagar de forma compatível os funcionários e
promover sectores de empregabilidade de rendimento contra os actuais
sub-empregos;
·
Gerir com transparência e uma gestão
orientada aos resultados e impactos no curto, médio e longo prazo de todos,
para todos e com todos;
·
A prestação de contas que se resume na
transparência na gestão da coisa pública ou seja coisa do povo, para o povo e
com o povo;
·
O combate ferrenho ao nepotismo, ao
clientelismo, ao patrimonialismo, a intriga, a conspiração que geraram no
contexto do poder dos lusos tropicalista a corrupção endémica;
·
Construir um diálogo consensual que equilibre
as oportunidades e a justiça distributiva entre as maiorias e as minorias;
·
Finalmente as lideranças políticas de amanhã
e a juventude que luta em busca de um futuro risonho devem promover a cidadania
activa e não o partidarismo doentio e escravizante. Para tal as próximas
eleições devem merecer a máxima das seriedades em todos os amanheceres e todos
os anoiteceres. Senão todos seremos mais uma vez fadados à miséria de que somos
vítimas há 538 anos.
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