sábado, 9 de agosto de 2014

CENTRALIDADE DO KILAMBA NÃO TEM AINDA UM HOSPITAL PARA ATENDER OS MORADORES


A CRÓNICA DO KILAMBA: UMA BOA PELE MAS CHEIA DE LACUNAS

Neste fim-de-semana terminei a visita de 10 dias que efetuei à nova e mais jovem Cidade do Kilamba, no Município de Belas ex-Kilamba Kiaxi; cuja construção e publicidade venho a acompanhar desde 2008.

Os presidentes, diplomatas estrangeiros e empresários de renome internacional, que visitaram Angola, nos últimos 6 anos foram arrastados contra sua vontade, a ver a Centralidade do Kilamba mais admirável do que a Grande Muralha da China ou o Coliseu de Roma ou pelo menos as Pirâmides do Egipto ou a Torre Eiffel de Paris, embora não brilhasse muito como tal. Pelo menos, Jacob Zuma, Excelentíssimo Presidente da África do Sul e outros líderes emocionais africanos babavam de euforia simulada só de olhar para a inferioridade arquitectura da Centralidade.

Até alguns presidentes foram forçados pela TPA, JA e ANGOP ironicamente a se pronunciar nos termos de que Kilamba era de facto a melhor cidade do mundo. Cuja imponência e sumptuosidade seriam exemplos a seguir na urgente requalificação de Nova Iorque e Manhattan, ou Paris, ou Pequim, ou São Paulo ou pelo menos Barcelona. A Chancelar Alemã Ângela Merkel deve ter sido a única visita em Angola que burlou os sedutores angolanos que se desdobraram na diplomacia cavilosa de “paquerar” a Ângela a ir ver com seus olhos o paraíso angolano, a cidade mais nova em Angola. Bento XVI, o 2º Papa a pisar o solo angolano também conseguiu se livrar da visita febrilmente imposta pelo Chefe do Executivo o Padre Supremo. Pelo menos José Ribeiro e Artur Queirós os eloquentes Jornalistas do Jornal de Angola, nunca mais pararam desde o lançamento da primeira pedra em dedicar laudes, vésperas e missas de solenidade pela imponência da obra-prima do mundo moderno: o Kilamba.

Na verdade, Kilamba é uma lufada fresca, um ar de alívio, é água do moringue depois de se atravessar o inferno de engarrafamentos e poeiras dos “kalembas, Golfos, Morro-Bentos, Kazengas, Kikolo, Munlevos, Kantintons, Coreia, Zambas II, Terra-Nova, Palanca, Popular, Lumege, Avô-Kumbi, Estalagem, Mamã-Gorda, Ossos, Lixeira, etc” onde seus moradores vivem um aterrador estágio para um milhão de Infernos. Neste universo de masmorra, Kilamba sobressai brilhando mais que o Sol.

O projecto da cidade do Kilamba, segundo me informaram no dia 31 de Agosto de 2008 quando fui convidado a assistir ao lançamento da primeira pedra da construção da Cidade, ela foi concebida para se desenvolver em três fases, com um total de 82 mil apartamentos, numa área de 54 quilómetros quadrados. Como viveiro da urbanidade, civilidade, moralidade, conforto a Cidade do Kilamba seria o ponto de partida para educar o cidadão de Luanda a viver como “gente”. Kilamba seria apagador para apagar de Luanda a mente suburbana na sua relação com os resíduos, a natureza e os outros equipamentos urbanos.

Mas antes desse final de semana acompanhei alegre no dia 11 de Julho de 2011 a inauguração da 1ª fase dessa Cidade. A primeira fase deste empreendimento foi prevista “para alojar cerca de 19 mil pessoas em 115 edifícios, num total de 3.800 apartamentos, erguidos em padrão urbano com serviços públicos integrados, como escolas e instituições financeiras. 48 lojas, parques de estacionamento, paragens para transporte públicos, 24 creches, nove escolas primárias, oito secundárias e cinquenta quilómetros de estradas, pretinhas de alcatrão nova que na noite congela e de dia queima.

Seria  obra-prima para cobiça, não fosse a regra contrária!

Hoje, Agosto de 2014, volvidos 3 anos desde a entrega da primeira fase, encontrei que os prédios já correm velozes para a velhice. Tal azar é confirmada pelas garrafas de cerveja e latas de refrigerantes tombadas silenciosas a ocuparem com suas cores rutilantes o lugar do que seria o verde dos jardins. Os jardins apoquentados pelo cacimbo e sem tratamento, têm a cor castanha e crateras agrestes, áridas e desérticas como se fosse na Ilha dos Tigres no Namibe, o que revela sofrimento de falta de cuidados e água fresca nas plantas.

Os parques de estacionamento são bonitos que imitam as garrafeiras abarrotadas de Uísque e conhaque no interior de cada prédio; só que o capim está la estacionado primeiro, antes do carro chegar. Assim, a Cidade do Kilamba construída para ser diferente de Luanda Velha, começa a recuperar a identidade de Luanda, sussurrando nos ouvidos dos que lá buscam consolo dessas vidas calcinadas pela história recente: Kilamba e Luanda é “Filha do Peixe, peixe é”! A sujidade é identitária.

Por ocasião da minha visita à cidade onde permaneci 10 dias de observação doméstica urbana, tive o azar de viver 4 dias interpolados sem luz. Na zona  onde estava instalado, num apartamento, no 10º andar subia e descia a escada pedindo água, porque sem luz, a água já não conseguia escalar até ao meu 10º Andar. Isto também não era estranho se tivermos em conta que “Um Só Povo e Uma Só Nação” significa escuridão para todos; falta de água para todos, poeira para todos, falta de transportes públicos para todos, falta de hospitais para todos aí está a nossa identidade comum isto nos une mais do que a Bandeira da Repúblico. A Cidade do Kilamba deveria ser uma excepção, não fosse os imperativos da regra.

A minha penúltima noite, inexplicavelmente passei mal: hemorragia nasal, dor de cabeça infernal  e naquela noite senti todo o tipo de dor que o corpo humano poderia acolher nos momentos mais lamentáveis, fiquei definhado pela dor como um cachorro da própria cidade em referência. Mas a minha infelicidade foi sem igual por se tratar de ser apoquentado pela doença numa cidade sem água a correr nas torneiras, sem luz a iluminar a cloroquina, sem rios de Deus  como alternativas da falta de Água do Estado. Sem luz os elevadores ficam  apoderados por ratos como é regra nas velhas cidades. Na  esquina do elevador vi irónico dois ratinhos zombeteiros  riam a minha aflição com seu barulho estridente, cujo coro era reforçado pelas cigarras, grilos cuja inarmonia aumentava ainda mais a minha dor imparável o que também é identitário em Angola onde quando um sofre outros circunda-o zombando. Assim, teria que descer do 10º andar e passear noite adentro, com dores inimagináveis a procura de uma clínica, posto médico ou centro de saúde, ou pelo menos um Kimbanda… Mas na Cidade do Kilamba não existe nenhum hospital público ou privado, não há clinica médica nem de pessoas nem de animais. Não há Kimbandeiros nem curandeiros nem ervanários.

A Clínica mais próxima fica há quase 4 ou 5 quilómetros do Kilamba: trata-se da Clínica Caridade, ainda existe naqueles zonas o Hospital Geral de Luanda. Não faltam alguns postos médicos e clinicas de nível inferior desses Pastores estrangeiros ilegais que pensam que curam alguma ferida com anátemas sagrados; esses ali soltos em todo no Palanca, Mabor, Mártires, Calemba, ou então descer lá nos Benfica ou Prendas ou Lucrecia Paím ou Américo Boa Vida ou Ngangula a procura de uma saúde que deveria estar à porta. Infelizmente Kilamba não tem nada disso…

Mas os mais de 300 moradores com que conversei em 10 dias, clamam por um hospital público, clinicas privadas, farmácias na Cidade do Kilamba. Este plano não faltou no Projecto inicial mas a sua materialização ainda não aconteceu. Enquanto a cidade do Kilamba espera por um hospital, as doenças e mortes podem contactar os moradores todos os dias. Onde não há hospital evidentemente que não há casas mortuárias. Onde se pode então encaminhar alguém que possa ter morte súbita!? Ou o Chefe do Executivo pensa que por ser uma cidade nova e bonita ninguém mais iria ficar doente ou morrer? Isto faz-me lembrar o que li algures num livro de um político Português que dizia aquando da Independência de Angola: o Vaal Neto gritou eufórico: “ isto está porreiro, com a Independência de Angola conseguida, já não precisaremos mais trabalhar porque o Colono já deixou-nos tudo o que precisamos”! Ledo engando! A saúde no Kilamba não pode ser conseguida por meio de artes mágicas, urgentemente o Chefe do Executivo delibere verbas para se construir o Hospital no mais urgente possível aí no Kilamba, pelo menos! Eu não estou interessado a voltar a toca neste assunto.

Ainda na centralidade do Kilamba notei que os fiéis deslocam-se distâncias imensas à procura de igrejas para se reconciliar com seu Deus. Neste caso então  os Padres e Pastores  do Executivo, deveriam ser indicados a gerir uma paróquia ou uma igreja para atender a espiritualidade dos moradores do Kilamba sem buscar mais Deus nos confins  do Cazenga  e Viana. Não sei como é que aquele balcão comercial chamada  IURD não está lá ainda! Há dinheiro no Kilamba, é hora da IURD abrir uma sucursal lá!

Governo deve colocar Hospitais lá e incentivar o investimento privado em clínicas privadas compatíveis com a publicidade da Centralidade e as igrejas que vejam lá…

A Centralidade pela sua pureza, urbanidade, sanidade e seu nível social universitário, não é permitido táxi “azul e branco” nem “kupapatas” nem “roboteiros” essa medida é boa porque mantém a imagem de classe média e alta que não pode sujar os fatos com os carros de baixo rendimento como azul e branco num mundo de ferrari, lexus, cayenes, porchi, BMW, Mercedes, Limosines, Hummers etc.

Durante a curta observação no Kilamba notei que todos os quarteirões possuem paragens de transportes. Mas, infelizmente os autocarros da TCUL, TURA e Macon autorizados a operar na Centralidade só atingem até à zona C. O que significa que todos os moradores para se deslocarem a vontade precisam percorrer distâncias ao encontro dos poucos autocarros na zona C, por serem poucos acabam enchendo como se fosse um ovo, ou sardinhas na lata ou pães no forno, o que também é uma identidade nacional.

 A Cidado do Kilamba precisa uma linha de autocarros em quantidade e qualidade que deve cobrir a cidade toda para que o cidadão a descer do prédio dirige-se a paragem mais próxima de sua casa para entrar num autocarro limpo e seco que ainda não existe em Angola. Mas “a esperança é a ultima coisa a morrer”.

A polícia opera nos contentores ou esquadras-moveis, pronto. Como a própria polícia já não garante segurança nenhuma, tirando a tal gasosa ou propina este capítulo vou saltar e nem me cingi a isto. A polícia em Angola é odiada e, ela, eludida pensa que o povo lhe amam. Como poderia amar alguém tão “imbumbável” como a polícia? Aberração!

“Na Cidade do Kilamba estão planeadas infraestruturas destinadas aos serviços municipais segundo um modelo que se propõe ser o embrião de ensaio da criação de autarquias a nível do País, entre elas a futura Câmara Municipal, o Tribunal Municipal e outros serviços”. Acho que as autarquias podem melhorar o problema actual da saúde, educação, transportes colectivos urbanos ou rurais, jardinagens e ambiente, desporto, segurança pública nessa Cidade e noutras.

Finalmente,  depois de 10 dias na Cidade de Kilamba me apercebi mais uma vez que é urgente construção do corpo legislativo que define o complexo regulatório da realização das Autarquias em Angola para que à semelhança da Cidade do Kilamba, os munícipes elejam seus dirigentes para prover à seus habitantes de melhores condições de vida, que a depender tudo do Chefe do Executivo a aprovação de simples verba para trocar o parafuso de uma torneira mas absolutamente tudo centralizado, daqui há 10 anos a Cidade do Kilamba vai estar no nível em que se encontram os Lotes do Prenda; os seus arruamentos não terão muita diferença com as actuais ruas da Mabor ou do Tala-Hade. Os seus jardins irão ser parecidos com  o capim da Mamana ou IEBA ou Village lá no Kikolo.

Se não houver Autarquias os moradores do Kilamba vão continuar a escalar o 10º andar ou o 11 º carregados no dorso um milhão de galões de água em bidons amarelos porque não existe água canalizada que suba os prédios sem Luz elécrtica.

Se não houver Autarquias em Angola, os autocarros da TCUL, TURA e MACON terão o monopólio do mercado de transportes públicos angolanos que apenas terminam na zona C do Kilamba deixando 99% de cidadãos a andar a pé ou procurar  kupapatas e  hiaces no Zamba I andando daquele kupapatas irresponsáveis , Hiace barulhentos e húmidos a cheirar maconha.

Sem Autarquias algumas zonas do Kilamba vão continuar sem redes da UNITEL e Movicel porque o monopólio relaxa os empresários e deteriora a qualidade.

Se não Houver autarquias, a abertura de um simples posto de Saúde na Cidade de Kilamba dependerá do capricho do Conselho de Ministro quando deveria depender apenas do órgão eleito localmente pelos cidadãos de Kilamba de quem ele deve obediência e responsabilidade sob pena de o destituir na eleição seguinte ou num referendo.

Sem autarquias as estradas continuarão poeirentas, esburacadas e de noite escuras quando pela concorrência governativa local, os autarcas sem burocracia e com amor puro e paixão abençoada pelo olhar do cidadão local avido de ser bem governado, haveria beleza, felicidade, orgulho e transparência.

Eu pelo menos sou a favor da Autogovernarão dos cidadãos municipais para conseguirem este desenvolvimento e progresso angolano ainda refém da burocracia centralista. Na base do nosso pacifismo anómalo vamos aguardar na última vinda de Jesus Cristo para sermos felizes.

A felicidade do povo não deve depender dos botões do poder central. Deve se descentralizar e promover autarquias realmente efectivas para o povo sorrir e se orgulhar de si mesmo. Autarquias limpas seriam a melhor vitória de o povo retirar do seu pescoço a bota do centralismo sufocante.

Luanda, 08 de Agosto de 2014[]